Arrependimento tardio

Série: Fiel amor

"Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer."

Oséias 11:4

Uma fábula recriada sobre uma história. Havia em certa cidade um pai com seu filho. Por conta de não ter um olho o pai tinha uma vida modesta. Na escola o filho vivia sob olhares de seus amiguinhos e zombarias sobre a situação do pai. Zombavam de seu pai, lhe davam apelidos e lhe importunavam insistentemente sobre o seu pai ser um caolho. E assim foi por sua infância e juventude. Então, já responsável de si, aquele menino, agora um rapaz, resolveu deixar a cidade e o pai, e tentar uma nova vida em outro lugar. Assim foi para a cidade grande. Lá tudo mudou. Com o passar do tempo ele nem mesmo se recordava de seu pai, tinha uma vida muito melhor em todos sentidos. Certa vez seu pai tentou lhe fazer uma visita, mas ouviu dentre inúmeras coisas seu filho dizer: "porque você veio pra cá? não te chamei aqui!"; Passado mais alguns anos houve uma confraternização perto da cidade onde morava, então, ele decidiu que era hora de visitar o pai. Chegando lá, recebeu de um vizinho a notícia: "Seu pai faleceu alguns anos atrás. Como não sabíamos onde você morava, não conseguimos lhe avisar. Mas ele te deixou uma carta". Demorou para passar aquela sensação de soco no estômago. Passado um tempo ele leu a carta de seu pai que lhe dizia: "Filho amado, ao ler esta carta não estarei mais aqui. Talvez você nunca tenha sabido, então preciso lhe contar. Passado alguns anos de seu nascimento você sofreu com uma doença terrível. Isto lhe fez perder um dos seus lindos olhos. A mim aquilo foi terrível demais. Não pude aceitar que você cresceria e viveria uma vida sem um olho. Imaginei tudo o que você poderia perder com isto. Então busquei tudo que me foi possível, até encontrar um médico que tinha um procedimento novo. Ele tiraria meu olho e lhe daria para que você tivesse uma vida plena. Aceitei mesmo sabendo que aquilo mudaria totalmente a minha vida. A cirurgia foi um sucesso. Porém, tive de sair de onde morávamos para uma cidade mais modesta. Mas, meu filho, quero que saiba que nada do que eu possa ter perdido ou passado me fez qualquer dia me arrepender de ter-lhe dado o direito a vida que você tem. Eu te amo tanto meu filho, que se necessário, lhe daria não só um, mas os dois olhos".

Uma fábula?! Sim. Mas tal história representa, entre tantas, o que é o amor de Deus por nós. Aliás, Deus não nos deu apenas um olho, Ele nos deu Seu próprio Filho! Por amor a nós Deus nos deu não o que Lhe estava sobrando ou o que não tinha mais valor, não! Ele nos deu TUDO o que Ele tinha de melhor!

Nesse sentido, chega a ser impressionante e lamentável como muitos de nós, hoje, estamos igual ao filho, querendo viver bem longe do Pai. Nossa vida, hoje tão bela, tão cheia de prazeres, de conquistas, de "tudo posso", de "eu sou o meu próprio guia" ou "vou ser feliz do jeito que penso ser felicidade", é num sentido final, triste. Sim, pois, para que tenhamos essa total "liberdade" precisamos nos escravizar no pecado e soltar as cordas de amor que vem de Deus. É intrigante pensar como hoje tantos de nós nem mesmo reflete sobre o que é esse amor. Chega a ser indesculpável aquele que se mantém na sua vidinha feliz, mas longe de Cristo, pois o mesmo sabe que, para se aproximar de Jesus, muita coisa tem de mudar.

Arrependimento sincero. Isso é o que Deus pede para que possamos ter o início da comunhão com Ele. Infelizmente hoje milhares continuam a se conduzir como o filho, vivendo na cidade sem se preocupar ou pensar no pai. Nesta fábula, o arrependimento do filho não teve valor, pois já era tarde, seu pai já não estava mais vivo. Na nossa vida, a verdade é que um arrependimento tardio de nada resolve, é igual feriado de domingo. Portanto, hoje, repense bem sobre sua vida. Deus te deu um Filho para que Nele você cresce e tivesse uma nova vida. Porém, esta nova vida deve ser vivida de verdade, perto do Filho. Portanto, hoje, ainda temos tempo de nos arrepender de nossos caminhos. Repense, porque haverá o dia onde o Pai não vai mais estar aqui.

A igreja antiga estava disposta a morrer por causa da fé. A igreja moderna a negocia. (R. C. Sproul)